“Cheguei aqui há mais de 40 anos ensinei aos meus filhos o meu ofício. Tenho muito orgulho da minha profissão”. É da Comunidade da Prainha do Bairro Industrial que fala mestre Umberto. Ali, as margens do Rio Sergipe, vivem 23 famílias. Além das moradias, há na pequena vila dois estaleiros, uma serralharia, dois bares populares onde são preparados pratos da culinária local. Lá, mestre Umberto, 67 anos, vive e exerce o ofício de que tanto se orgulha, construindo e reparando embarcações.
Ele mora na comunidade com seus quatro filhos, dez netos, cinco bisnetos e quatro tataranetos. É representante de construtores artesanais de barcos e um dos mais requisitados do estado para fazer reformas e manutenção básica em cascos, casarios, convés ou componentes de madeira e mecânica. Remenda cascos de um pau só, recola madeiras, capricha no acabamento no casario e é especialista em transformar botes de pesca nas seguras Tototó, usadas no transporte e na pesca artesanal.
“Aqui é um trabalho duro mais é uma felicidade só vê os barcos na água”, revela mestre Bruno, que também vive e trabalha na Comunidade da Prainha. Autodidata, mestre Bruno, 52 anos, constrói as embarcações sem desenhá-las antes. Se vale da sensibilidade, experiência e conhecimento. Com ele trabalham mais três pessoas da comunidade. Além do trabalho nas embarcações, a comunidade tira seu sustento da maré, com a pesca artesanal e a cata de mariscos.
Infelizmente os moradores da Comunidade da Prainha estão ameaçados de despejo. Como a vila está em área que pertence à União, a Secretaria do Patrimônio da União (SPU) passou a cobrar taxa de ocupação aos moradores da comunidade e aplicar multas altíssimas. Como os moradores não tem nenhuma condição de pagar, estão ameaçados de serem expulsos da área. O poder público só enxergou a comunidade para ameaçar sua permanência na área. “A falta de espaço na orla me preocupa. Estamos aqui há anos e o poder público nunca se interessou pela comunidade”, explica mestre Umberto.
Enquanto os moradores são ameaçados de perder seu lar e seu sustento, a área nas proximidades da vila vem recebendo empreendimentos, como a construção de um Shopping e a reforma da Orla do Bairro Industrial, aumentando o jogo de interesses pela área onde vive a comunidade.
Em meio a isto, os mestres barqueiros e a comunidade lutam para manter suas casas, seus trabalhos, suas tradições e seu modo de vida. “Nossa demanda diminuiu, mas juntos fizemos uma boa frota de barcos durante a vida. Já perdi as contas”, destaca mestre Bruno. “Não podemos ser esquecidos. Aqui existem famílias que vivem da pesca. Somos trabalhadores e só queremos que os nossos direitos sejam respeitados. Somos uma comunidade tradicional que tem memória e cultura viva”, aponta.