03/12/2024 Pedro Bomba

Pescadores, marisqueiras e pesquisadores da UFS, percorreram os rios do Sal e Sergipe para verificar denúncias de poluição e degradação de manguezais

A primeira semana de dezembro de 2024 começou com a inauguração da atividade Caravana das Águas, organizada pelo projeto Observatório Social dos Royalties (OSR/PEAC) em parceria com pescadores e marisqueiras de Aracaju. Com o objetivo de percorrer, por navegação, rios da capital sergipana, a Caravana das Águas teve início ontem, 2, na orlinha do Bairro Industrial e navegou pelos rios do Sal e Sergipe. Durante as quatro horas de atividades, pescadores e marisqueiras puderam narrar as dificuldades enfrentadas nos rios localizados na zona norte de Aracaju.

“Você viu a qualidade do Sutinga? Você viu a qualidade da lama? Os pescadores não estão encontrando mais os peixes. Já não temos mais o Milongo, não temos mais a Moreia, não temos mais o Sururu. Vocês puderam ver de perto aquilo que nós, pescadores, estamos dizendo sempre. Parece que não tem solução para melhorar a vida dos pescadores”, afirma João de Andrade, 72 anos, pescador conhecido como João da Banca.

Embora fosse possível avistar pequenos peixes tipo Sardinha e Tainha saltando ao lado das embarcações, a quantidade irrisória desses peixes e a escassez de espécies, aponta para a falta de perspectiva quando o assunto é pesca artesanal. “O pescador nos contou que largou uma rede com muitos metros, passou uma noite e um dia e não conseguiu pegar nada. (...) Hoje, mesmo que tenhamos incentivo de políticas públicas para compra de equipamentos, nós não temos como fazer esse investimento porque a pesca não nos dá retorno necessário para gente ter condições de pagar”, explica João da Banca.

Caranguejos, manguezais e esgotos a céu aberto

Na altura do porto artesanal conhecido como Porto do Gringo, localizado no bairro Soledade, zona de norte de Aracaju, a degradação do Rio do Sal é ainda mais perversa. O que se vê é uma grande tubulação de esgoto a céu aberto desaguando dejetos às margens do rio, em frente ao local onde pescadores aportam suas embarcações.

Apesar das margens dos manguezais se apresentarem preservadas, a inexistência de caranguejos, aratus e espécies do mangue circulando em suas margens, demonstram um outro problema sério que na maioria das vezes só pode ser visto por imagens áreas. As pequenas faixas de manguezais, escondem a presença de grandes viveiros de carcinicultura que também despejam seus dejetos no rio. Para Adilma Gomes, marisqueira e pescadora da Farolândia, a poluição, durante o percurso, foi percebida não só pela presença dos canais de esgotos, mas também pelo cheiro da água. “Até no lugar onde descemos para tomar banho, percebemos o cheiro dessa poluição, o cheiro forte dessa água pesada”, explica.

Análise da qualidade da água

Além de percorrer os rios da capital sergipana, o intuito da Caravana das Águas é a realização de coletas de amostras da água para verificar se há a presença de metais pesados, nitrogênio, fósforo e a quantidade de oxigênio presente na água, o que pode indicar se o rio tem as condições necessárias para a manutenção de uma vida saudável nas águas e no mangue.

 Ao todo, foram feitas quatro amostragem da água nos dois rios e essas amostragens foram levadas ao Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe (ITPS) para realização do procedimento detalhado da análise da água. Segundo o engenheiro ambiental e pesquisador do PEAC, Augusto Cruz, o objetivo de realizar esses testes é “trazer um retrato do momento em que passamos pelos rios e avaliar como tá essa água baseada na CONAMA 357 que estabelece os parâmetros da qualidade da água. Então a partir disso, podemos ter uma noção sobre a condição desses rios e perceber que tipos de materiais estão presentes”, explica.

A resolução 357 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), rege sobre "a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes”, é ela, portanto, que irá identificar se as condições das águas estão dentro de parâmetros de qualidade necessários.

A navegação da Caravana e o filme documentário

As navegações da Caravana das Águas já estão marcadas para as próximas semanas e pretendem percorrer os rios Poxim e Vaza-Barris e o Canal do bairro Santa Maria. Em cada rio, uma amostragem das águas será coletada e as viagens acompanhadas por pescadores e marisqueiras dos bairros Coroa do Meio, Farolândia, Santa Maria, Mosqueiro e Areia Branca.

Ao final da Caravana, será gerado um relatório detalhado sobre as condições das águas, da pesca artesanal e os resultados da coleta. Além disso, a caravana divulgará o filme documentário que está sendo produzido pela Rolimã Filmes e dirigido pela cineasta Luciana Oliveira, que contará as histórias ouvidas durante a atividade.